O Museu Nacional da Imprensa está a preparar várias iniciativas para assinalar o 71º aniversário do jornalista e escritor Manuel António Pina, Prémio Camões 2012.
Neste contexto, a nossa biblioteca quis associar-se à iniciativa intitulada Onda Pina: Poesia em Movimento.
Assim, na Biblioteca Escolar estará exposta uma “cortina” de poemas e, nas salas de aula, serão lidos, ao longo do dia, poemas do autor.
Deixamos, aqui, alguns poemas para que se deliciem…
O jardim das oliveiras
Somos seres olhados
Ruy Belo
Se procuro o teu rosto
no meio do ruído das vozes
quem procura o teu rosto?
Quem fala obscuramente
em qualquer sítio das minhas palavras
ouvindo-se a si próprio?
Às vezes suspeito que me segues,
que não são meus os passos
atrás de mim.
O que está fora de ti, falando-te?
Este é o teu caminho,
e as minhas palavras os teus passos?
Quem me olha desse lado
e deste lado de mim?
As minhas dúvidas, até elas te pertencem.
Saudade da prosa
Poesia, saudade da prosa;
escrevia “tu”, escrevia “rosa”;
mas nada me pertencia,
nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava ou o que sabia.
E se regressava pelo mesmo caminho
não encontrava
senão palavras e lugares vazios:
símbolos, metáforas,
o rio não era o rio nem corria
e a própria morte
era um problema de estilo.
Onde é que eu já lera o que sentia,
até a minha alheia melancolia?
A um jovem poeta
Procura a rosa.
Onde ela estiver
está tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças
como diante da uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.
Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.
Se quiserem conhecer mais acerca deste fantástico escritor, visitem a Biblioteca!